O Punk, Pós-punk e as garotas no comando do baixo

“Agora vocês nem são uma banda legal ao menos que tenham uma baixista chamada Kim”Kim Deal, baixista do Pixies

Pixies – Debaser (videoclipe oficial)

Em 1936, somente quatro anos após o surgimento da primeira guitarra, foi lançado o baixo elétrico. O modo de tocar na horizontal e os custos elevados tornaram essa tentativa pioneira um fracasso.

Porém, em 1951, o baixo se popularizou através do modelo Fender Precision Bass, que era tocado como uma guitarra, apresentava trastes (fornecia precisão) e a possibilidade de ser amplificado, redimensionando o tal do Rock

Até a década de 70, com o surgimento do Punk e New Wave na Inglaterra e Estados Unidos (aí entra a frase Girls invented punk rock, not England), poucas bandas possuíam integrantes mulheres, e quando elas estavam presentes, normalmente assumiam a função dos vocais.

Segundo o artigo “When Women Play the Bass: Instrument Specialization and Gender Interpretation in Alternative Rock Music”, de Mary Ann Clawson publicado na revista Gender & Society, há uma tradicional associação das mulheres com o canto e restrição à atividade de tocar instrumentos, por ser uma posição fortemente associada às noções de criatividade do rock.

De acordo com sua pesquisa, na listagem “Os 100 Melhores Álbuns dos Últimos Vinte Anos” publicada por críticos na revista Rolling Stone em 1987, as mulheres representaram apenas 5,5% do total de músicos participantes.

Haviam poucas mulheres nos vocais e ainda menos instrumentistas, com destaque para a única baixista presente na lista, Tina Weymouth do Talking Heads.

Se por um lado a ideologia transgressora do punk permitia que as mulheres criassem as suas oportunidades, por outro, os homens continuaram ocupando as posições de maior destaque.

Porém, embora o cenário não fosse completamente favorável, houve um aumento de mulheres tocando baixo nas bandas recém-formadas.

Aprofundando-se nesse tema, Clawson entrevistou dezenas de musicistas e atribuiu esse boom de mulheres baixistas a duas principais razões: o baixo ter sido considerado um instrumento de fácil e rápida aprendizagem e ao fato de que os homens preferiam tocar as guitarras.

O status e destaque obtido pelo guitarrista levava a disseminação do pensamento abaixo:

“Eles não pensam sobre isso (o baixo) como um instrumento diferente com seus próprios desafios” – disse uma das entrevistadas do estudo.

Com as mulheres no comando dos graves, houve um avanço da representatividade na música alternativa e surgimento de grandes referências (vai tá lá embaixo).

Entretanto, a incorporação de mulheres nas bandas por meio da adequação a essa especialidade “feminina” também traz limitações e implicações negativas.

Mesmo no final dos anos 70, momento em que surgiram bandas como The Slits e The Raincoats, com todas integrantes mulheres, e personalidades transgressoras como Poly Styrene e Siouxsie Sioux, elas não ganharam destaque nas paradas da Billboard.

The Raincoats

No ranking da categoria “Modern Rock” do ano de 1996, das 28 bandas listadas, somente três eram lideradas por mulheres e uma única banda possuía uma integrante instrumentista e que não cantava, a baixista D’arcy Wretzky do Smashing Pumpkins.

Então bora se inspirar nessa mulherada, escolher o instrumento de preferência e colocar essa lista de cabeça pra baixo >>>

Tina Weymouth

Ex-integrante da banda de pós-punk Talking Heads, Tina Weymouth é a perfeita combinação das linhas minimalistas de baixo do punk com riffs dançantes. A baixista, cantora e compositora também integrou as bandas Tom Tom Club e The Heads.

Em 2003 colaborou com outras musicistas mulheres (dentre elas, Le Tigre) para o cover da música do Tom Tom Club, “Wordy Rappinghood” que integrou o álbum “99 Cents” das Chicks on Speed.

D’arcy Wretzky

A baixista é conhecida principalmente por ter integrado a banda de rock alternativo The Smashing Pumpkins de 1988 a 1999. Durante o tempo que permaneceu na banda, tocou nos álbuns: “Gish” (1991), “Siamese Dream” (1993), “Mellon Collie and the Infinite Sadness” (1995), “Adore” (1998) e “Machina/The Machines of God” (2000).

Em 1989 compôs a música “Daughter” junto com Billy Corgan, uma faixa considerada rara, por ter sido lançada apenas para os assinantes de uma revista e nunca ter sido incluída em nenhuma outra coletânea da banda.

Kim Gordon

É conhecida principalmente por ter sido a baixista da banda Sonic Youth. A cantora, instrumentista e artista visual gravou 15 álbuns com o grupo, o primeiro no ano de 1983, chamado “Confusion is Sex”.

Anos após a separação da banda, em 2015, lançou sua autobiografia chamada “A garota da banda”, que estreou entre os livros mais vendidos do New York Times.

Para dar nome ao livro, Kim se inspirou nos versos da música “Sacred Trickster” da antiga banda – “What is like to be a girl in a band?/ I don’t quite understand”

Kim Deal

É compositora e multi-instrumentista, foi baixista e vocalista da banda Pixies (1986 – 1993/2004-2013) e em seguida da banda The Breeders (que conta com a participação de sua irmã Kelley Deal), com a qual lançou o sucesso comercial “Last Splash” no ano de 1993, com destaque para o single “Cannonball”.

Em 2017, lançaram o single “Wait in the Car”, que foi seguido pelo lançamento do quinto álbum, e primeiro álbum de estúdio em 10 anos, entitulado “All Nerve” (2018).

Fotos: Reprodução/Youtube

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