Mulheres vem ganhando espaço na música clássica.
“Ganhar espaço” basta para nos remeter ao tremendo esforço e dificuldade de ser reconhecida como cantora, instrumentista, compositora e maestrina. Aqui eu tinha incluído a parte – em tempos onde as mulheres eram desestimuladas a seguirem carreira na música e, inclusive, impedidas de serem membros de orquestras – mas, é muito diferente de hoje?
O site Donne Women in Music reúne dados atualizados sobre a participação das mulheres na música clássica. Na temporada de 2019-2020, apenas 8,2% dos concertos incluíram peças de compositoras (pra você que curte um gráfico, mais detalhes abaixo)

O site foi criado no início de 2018, através da iniciativa da soprano brasileira Gabriella Di Laccio (que em 2018 foi inclusa na lista da BBC das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo, segura essa Brasil, tá melhor que copa, tá não?)
Gabriella, radicada em Londres, reuniu uma lista com mais de 4 mil compositoras de diferentes países, classificadas por época (desde antes do século XVI até o século XXI – séculos 16 e 21 pra quem não tá a fim de fazer essa soma 😉
Além do site Donne Women in Music, também foi criado o canal do Youtube de mesmo nome para dar visibilidade para todas essas compositoras do passado e do presente (♪)
É muita coisa pra acompanhar né?
A lista das compositoras é quilométrica, difícil de resumir, mas aqui vai uma palhinha aproveitando o gancho da matéria da Sociedade Artística Brasileira >>>
Hildegard von Bingen (1098-1179)
Apesar de todas as dificuldades da época, Hildegard von Bingen (também teóloga, poetisa, dramaturga) foi uma das primeiras pessoas a assinar as suas composições.
Única compositora conhecida da era medieval, compôs aproximadamente 70 obras, sendo a mais conhecida “Ordo Virtutum”, um drama litúrgico sobre uma alma contra o demônio em busca de redenção.
Fiquem com essa belíssima apresentação na catedral de St. John’s em Los Angeles >>>
Clara Schumann (1819-1896)
A compositora prodígio, incentivada pelos pais músicos, escreveu seu primeiro concerto aos 14 anos de idade. Clara já era famosa quando casou-se com o compositor Robert Schumann (e a gente já sabe que as coisas não davam muito certo para as mulheres no casamento).
(Dito e feito) Após o casamento, a pianista ocupou-se com os afazeres domésticos, criação dos filhos e interrompeu a carreira.
Mas esta história tem um final feliz: Clara voltou a dedicar-se à música após a morte do marido, conquistando um enorme prestígio.

Ethel Smyth (1858-1944)
A gente não ia deixar de fora a compositora militante, né?
A britânica Ethel Smyth participava do grupo das sufragistas, ativistas dos direitos das mulheres, e compôs a obra “The March of the Women” que tornou-se o hino do movimento!
Muitas como uma, ombro a ombro e de amiga pra amiga bradam esse hino >>>
Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
A história da música clássica das mulheres também acontece no Brasil!
Chiquinha Gonzaga, conhecida pelas marchas de carnaval, compôs aproximadamente 2 mil peças de diversos gêneros e foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país.
Além de seu papel como mediadora entre a música popular e erudita, também era ativista política, participando de movimentos abolicionistas e desagradando alguns políticos da época com suas músicas (chegou a receber uma ordem de apreensão para a partitura de “Aperte o botão”).
Se uma mulher na música clássica incomoda, imagina uma mulher que se posiciona!
Além de Chiquinha Gonzaga, outras brasileiras compõe a lista como destacado pela matéria da GZH Música:
Esther Scliar (1826 – 1978), compositora, musicóloga, maestrina e professora;
Dinorá de Carvalho (1905 – 1980), pianista, compositora e primeira mulher a ser aceita na Academia Brasileira de Música;
Catarina Domenici, compositora, pianista, professora e também autora da canção de protesto “Marielle Presente“.
Uma sobe e puxa a outra!
Ah, mas era uma playlist que você queria?
A Spotify fez esse favorzinho pa nóis! A playlist “1200 Years of Women Composers: De Hildegard To Higdo” contém mais de 78 horas de músicas clássicas, totalizando 900 canções de 116 compositoras.
A playlist está organizada em ordem cronológica e resgata a história da música clássica ocidental feita por mulheres!
Preparada pra não perder o compasso nessa viagem no tempo >>>
Foto da capa: James Park on Unsplash